Principais conclusões
1. A Adaptação Rápida ao Contexto é a Chave para o Triunfo.
Nossa análise-diagnóstico abordou diversas variáveis: a cultura do país, o futebol brasileiro, o clube e a equipa/elenco que teríamos à disposição.
Contexto é rei. Ao chegar ao Palmeiras, a comissão técnica de Abel Ferreira dedicou-se a uma análise profunda do novo ambiente, desde a cultura brasileira e a linguagem do futebol até a estrutura do clube e o perfil dos jogadores. Essa imersão inicial foi crucial para uma adaptação rápida e eficaz, reconhecendo que o sucesso dependeria de entender e respeitar as particularidades locais. A capacidade de se ajustar rapidamente a um cenário desconhecido foi um diferencial.
Flexibilidade metodológica. A densidade competitiva do futebol brasileiro, com jogos a cada dois ou três dias, forçou a comissão a repensar e adaptar sua metodologia de trabalho europeia. Em vez de tentar impor um modelo rígido, a equipe priorizou a flexibilidade, ajustando rotinas de treino, análise e logística para maximizar o rendimento imediato dos jogadores. A humildade de se adaptar ao contexto, em vez de esperar que o contexto se adaptasse a eles, foi um princípio fundamental.
Superar adversidades. A adaptação não se limitou apenas à metodologia, mas também à superação de obstáculos inesperados, como o surto de Covid-19 e as lesões graves. A capacidade de encontrar soluções criativas para a falta de tempo de treino e a ausência de jogadores, como o uso intensivo de análise de vídeo e a integração da base, demonstrou a resiliência e a inteligência da equipe em um ambiente de alta pressão.
2. A Filosofia "Cabeça Fria, Coração Quente" Orienta Decisões Cruciais.
Com cabeça fria e coração quente, escrevemos este livro – que é mais um exemplo da nossa filosofia de ser e de estar na vida e, muito em particular, no futebol.
Equilíbrio emocional. A filosofia "Cabeça Fria, Coração Quente" permeia todas as ações da comissão técnica, especialmente em momentos de alta pressão e decisões difíceis. Significa tomar decisões racionais e ponderadas ("cabeça fria"), sem ignorar a paixão e o comprometimento ("coração quente") que o futebol exige. Este equilíbrio é vital para manter a coerência e a convicção.
Princípios inegociáveis. Embora a metodologia de trabalho possa ser adaptada ao contexto, a filosofia e os valores da equipe são inegociáveis. Respeito, disciplina, trabalho e competitividade são pilares que guiam a conduta de Abel e sua comissão, independentemente dos resultados ou das pressões externas. Esses valores são a base para construir um ambiente de trabalho sólido e vitorioso.
Decisões baseadas na razão. Em situações como a gestão de lesões, a rotação de jogadores ou a escolha de estratégias táticas, Abel Ferreira prioriza a razão sobre a emoção. Por exemplo, a decisão de não escalar Felipe Melo na final da Libertadores de 2021, devido à sua condição física, foi um exemplo claro de "cabeça fria", mesmo sabendo do impacto emocional. A convicção de que as decisões devem ser para o bem do clube e da equipe, e não para satisfazer vontades individuais, é central.
3. A Preparação Mental e Emocional Define o Desempenho em Finais.
Aconteça o que acontecer, ou ficamos na história ou seremos eternos. Mas temos de viver isso com intensidade, com alegria e com prazer.
Ansiedade é normal. Abel Ferreira reconhece que a ansiedade ("borboletas") antes de grandes finais é natural, até mesmo para os melhores. A estratégia não é eliminá-la, mas aceitá-la e aprender a lidar com ela, focando na ideia de que, ao apito inicial, ela desaparecerá. Essa abordagem humaniza a pressão e ajuda os jogadores a canalizar a energia.
Marcadores somáticos. A comissão utiliza diversas ferramentas para a preparação mental, criando "marcadores somáticos" que os jogadores podem acionar em momentos de adversidade. Exemplos incluem:
- Quebra-cabeça da Libertadores, simbolizando o caminho para o título.
- Mensagens de familiares, lembrando o "porquê" de seus esforços.
- Cartas pessoais de Abel, reforçando a confiança e o plano.
- Vídeos motivacionais com depoimentos dos próprios jogadores.
Visualização e propósito. A visualização mental da vitória e o reforço do propósito ("proteger o nosso sonho", "proteger o que é NOSSO") são elementos-chave. Ao lembrar os jogadores do árduo caminho percorrido e do significado da conquista, Abel busca infundir uma força extra, transformando a pressão em motivação e o sonho em realidade. A crença de que "mesmo sem ver, acreditar" é um lema poderoso.
4. A Gestão Inteligente do Elenco e a Competição Interna São Fundamentais.
A única coisa que exijo dos meus jogadores é que eles sejam a melhor versão de si mesmos em cada treino, em cada jogo.
Todos são importantes. Abel Ferreira aboliu a distinção entre "titulares" e "reservas", promovendo a ideia de "banco de titulares" e o lema "Todos Somos Um". Essa filosofia visa valorizar cada membro do elenco, garantindo que todos se sintam parte do projeto e estejam preparados para contribuir, independentemente do tempo de jogo. A estrela é a equipe, e os objetivos coletivos superam os individuais.
Competitividade interna. A comissão busca criar um ambiente de alta competitividade interna, com dois jogadores de qualidade por posição. Isso não só eleva o nível dos treinos e evita a displicência, mas também estimula o desejo contínuo de evolução nos atletas. A experiência de Abel como jogador e treinador reforça a convicção de que a competição saudável dentro do grupo é um catalisador para o sucesso externo.
Gestão de energia. Diante do calendário exaustivo, a rotação de jogadores tornou-se uma necessidade estratégica para manter a equipe na "máxima força" em todas as competições. Embora inicialmente houvesse resistência por parte dos atletas, a explicação transparente de Abel sobre o impacto da densidade competitiva e da Covid-19 nas capacidades físicas convenceu o grupo da importância dessa gestão.
5. A Análise Detalhada e a Criatividade Superam Limitações de Tempo.
Futebol é vida. Tem a ver com criatividade e inovação. Esse sou eu e essa é minha equipe. É a minha forma de ser e estar.
Análise como treino. A falta de tempo para treinar em campo no futebol brasileiro levou a comissão a utilizar a análise de vídeo como um "treino complementar". Sessões coletivas, setoriais ou individuais de vídeo são usadas para transmitir informações táticas, corrigir erros e aumentar o conhecimento declarativo do jogo ("o que fazer?"). Essa abordagem criativa compensa a impossibilidade de repetição sistemática em campo.
Inovação nos exercícios. A comissão desenvolveu exercícios específicos para otimizar o tempo, como o "filme do jogo", que simula cenários táticos com pouca carga física. Além disso, a utilização de jogadores da base para replicar o estilo de jogo dos adversários em treinos foi uma solução inovadora para preparar a equipe principal para grandes finais, garantindo qualidade e especificidade na oposição.
Antecipação de cenários. A análise de adversários é meticulosa, buscando antecipar todas as nuances estratégicas e possíveis mudanças de sistema do oponente. A leitura do livro sobre Marcelo Gallardo, por exemplo, não visava apenas conhecer o River Plate, mas entender a mente do treinador e seus padrões de decisão. Essa antecipação permite à equipe reagir de forma mais rápida e eficaz durante o jogo, transformando surpresas em oportunidades.
6. O Calendário Insano do Futebol Brasileiro Exige Sacrifícios e Inovação.
É insana a quantidade de jogos. Vamos ver como chegamos ao final.
Desafio desumano. O calendário do futebol brasileiro é descrito como "insano" e "desumano", com uma densidade competitiva sem precedentes que desafia as leis da performance física e mental. Jogar 79 partidas em 14 meses, com sequências de 4 jogos a cada 7 dias, impõe um desgaste brutal a jogadores e comissão técnica.
Impacto na saúde. A sobrecarga de jogos, viagens longas, jetlag e a ausência de pausas adequadas afetam profundamente a saúde física e mental dos profissionais. Abel Ferreira questiona publicamente a organização do calendário, defendendo que ele não prioriza o atleta nem a qualidade do espetáculo, e sugere um diálogo entre todas as partes envolvidas para encontrar soluções.
Adaptação forçada. A comissão foi forçada a adaptar sua metodologia para "sobreviver" a essa sequência louca, desenvolvendo estratégias como a rotação de três equipes para o Paulista e a Libertadores, e a priorização de competições. Essa adaptação, embora desgastante, também impulsionou o crescimento profissional da equipe, quebrou dogmas e gerou soluções inovadoras para problemas nunca antes enfrentados.
7. A Comunicação Transparente e a Liderança Humana Constroem uma Família.
É muito mais fácil explicares o que tu queres quando o outro está de mente e coração abertos.
Diálogo aberto. Abel Ferreira prioriza o diálogo e a escuta ativa com os jogadores, especialmente os capitães. Em vez de impor decisões, ele busca entender as perspectivas dos atletas e envolvê-los na construção das soluções. A conversa sobre o gramado sintético do Allianz Parque e a gestão da rotação de jogadores são exemplos de como o diálogo aberto fortalece a confiança.
"Todos Somos Um". O lema "Todos Somos Um" é a base da cultura de trabalho, estendendo-se a todos os funcionários do clube. Abel e sua comissão reconhecem a importância de cada departamento e pessoa para o sucesso da equipe, promovendo um ambiente de respeito, solidariedade e amizade. O gesto dos funcionários aplaudindo a saída do ônibus para a final da Libertadores é um testemunho dessa união.
Liderança pelo exemplo. A liderança de Abel é marcada pela transparência, honestidade e comprometimento. Ele não hesita em compartilhar suas convicções, desafios e até suas vulnerabilidades (como a saudade da família), criando uma conexão genuína com o grupo. A promessa de "dar o melhor de si" e a exigência de que os jogadores façam o mesmo, reforçam a cultura de trabalho e dedicação.
8. A Base do Clube é um Pilar Estratégico para o Sucesso Profissional.
A base de um clube deve estar sempre o serviço da equipa profissional – seja quando esta necessita de jogadores para repor ausências em treinos ou em jogos, seja neste tipo de situação de preparação de partidas decisivas ou ainda na realização de jogos no dia +1 (após o dia de jogo) para dar carga física e conteúdos táticos aos atletas que não atuaram no dia anterior.
Formar para ganhar. A comissão técnica de Abel Ferreira tem uma filosofia clara de valorização da base, distinguindo entre "formar a ganhar" (nas categorias de base) e "ganhar a formar" (no profissional). O objetivo é desenvolver jovens talentos para a equipe principal, garantindo que o crescimento dos jogadores não seja travado pela falta de tempo de jogo.
Jogadores-bolsa. O Palmeiras adota um modelo de "jogadores-bolsa", um grupo reduzido de atletas da base que treinam diariamente com o profissional e estão aptos a serem convocados. Essa integração permite que os jovens se desenvolvam em um ambiente de alta performance e estejam prontos para as oportunidades, como demonstrado no "laboratório" do Campeonato Paulista.
Ligação estratégica. A equipe técnica designa um responsável pela ligação com a base, garantindo uma comunicação diária e a identificação de jogadores com potencial. Essa colaboração é fundamental para o bom funcionamento do processo, permitindo que a base sirva o profissional em diversas situações, desde a reposição de ausências até a simulação de adversários em treinos estratégicos.
9. A Humildade e a Gratidão São Valores Inegociáveis no Caminho da Vitória.
A gratidão é a memória do coração.
Reconhecimento das raízes. Abel Ferreira expressa profunda gratidão ao Brasil e ao Palmeiras por lhe terem aberto as portas para conquistar seus primeiros títulos. Ele nunca esquece suas raízes portuguesas, mas valoriza a oportunidade e o aprendizado que o futebol brasileiro lhe proporcionou. Essa gratidão é um valor central que ele busca transmitir.
Humildade dos campeões. A comissão prega a "humildade dos campeões", que é a capacidade de reconhecer quando a equipe é superior ou inferior aos adversários, sem vergonha ou complexo. Essa sabedoria permite ajustar a estratégia e manter o foco no trabalho, independentemente das expectativas externas. A frase "ainda não ganhamos nada" é um lembrete constante para evitar o relaxamento.
Valorização do processo. A gratidão e a humildade se manifestam na valorização do processo de trabalho, mais do que apenas dos resultados. Abel enfatiza que o sucesso é consequência de um processo bem feito, de sacrifícios e renúncias diárias. A alegria de ver os jogadores e funcionários felizes com as conquistas é mais gratificante do que o próprio ato de levantar a taça.
10. As Derrotas e Adversidades São Catalisadores de Aprendizagem.
As únicas certezas são: ninguém que tem caráter erra de propósito; todos que têm ambição trabalham cada vez mais para errar cada vez menos.
Lições da derrota. As derrotas, como a eliminação na Copa do Brasil para o CRB ou as finais perdidas nos pênaltis, são encaradas como oportunidades de aprendizagem. Em vez de lamentar, a equipe busca refocar nos próximos objetivos e identificar os "porquês" dos erros, transformando o "Choque, Realidade, Benefício" em um motor para o crescimento.
Resiliência mental. A capacidade de lidar com o sucesso e o fracasso da mesma forma é um sinal de força mental. Após a frustração do Mundial de Clubes e as derrotas em finais, a comissão trabalhou para que os jogadores fizessem um "reset" mental, canalizando a desilusão em motivação para os desafios futuros. A regra dos "três budas" (não falar, não ver, não ouvir) é uma estratégia para proteger a mente de críticas destrutivas.
Superar o "sarrafo". Cada vitória eleva o "sarrafo" das expectativas, e cada derrota serve como um lembrete da necessidade de aumentar o trabalho e a exigência. Abel Ferreira constantemente desafia a equipe a ser a "melhor versão de si mesma", aprendendo com os erros e buscando a utópica excelência. A crença de que "não importa quantas vezes caímos, mas sim a força com que nos levantamos" é um mantra.
11. A História é Escrita no Presente, com Foco no Processo e na Glória Eterna.
A nossa história no Palmeiras tem sido fazer história.
Quebrar tabus. A passagem de Abel Ferreira pelo Palmeiras foi marcada pela quebra de inúmeros tabus e recordes históricos, como a conquista de duas Libertadores consecutivas e a primeira vitória oficial fora do Brasil. Esses feitos, embora não sejam o foco principal, reforçam a ideia de que a história é construída no presente, com trabalho e convicção.
Foco no processo. A comissão técnica enfatiza que o sucesso é resultado de um processo bem executado, e não apenas de talento individual ou sorte. A preparação meticulosa para cada jogo, a adaptação constante e a busca pela melhoria contínua são os pilares que levam às conquistas. A frase "a história faz-se aqui e agora!" é um lembrete para os jogadores de que eles são os protagonistas.
Glória Eterna. A conquista da Libertadores, a "Glória Eterna", é o ápice de um sonho e uma obsessão para o clube. Para a comissão, é a realização de um objetivo profissional que, apesar dos sacrifícios pessoais, enche de orgulho e gratidão. A celebração com as famílias, pela primeira vez, simboliza a união entre a vida profissional e pessoal, tornando a "Glória Eterna 2.0" um momento de festejos ao quadrado.
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